No âmbito das actividades pedagógicas do Curso de Mestrado Integrado em Arquitectura da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (Lisboa) irá realizar-se um seminário dirigido aos estudantes do 2º Ciclo (4º e 5º Anos) sob o tema da habitação multifamiliar em Lisboa. O seminário é aberto a todos os estudantes e professores do curso bem como, ao público em geral.

Programa do Seminário

O Seminário "Habitação em Lisboa: evolução, modelos e tipologias" irá realizar-se no próximo dia 12 de Novembro, pelas 9h30, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (Campo Grande, 376) no auditório Agostinho da Silva.


(9h00) - Apresentação e Introdução ao Tema

(9h30) João Pedro Costa - "Urbanismo e Programa Habitacional em Lisboa: o Bairro de Alvalade"

(10h15) - Ricardo Agarez - “Quantos metros de frente?”

(11h00) - Patrícia Pedrosa - "A habitação como direito e a adequação como desejo. Lisboa nos anos 1960 e a investigação no interior do habitar"

(11h45) - António Baptista Coelho - "Reflexões gerais sobre soluções residenciais humanizadas"

(12h30) - Frederico Valsassina - (apresentação de projectos de habitação em Lisboa)

"Urbanismo e Programa Habitacional em Lisboa: o Bairro de Alvalade"

(João Pedro Costa)

O Bairro de Alvalade constitui um paradigma no urbanismo em Portugal. É este o ponto de partida de um estudo que percorre as fontes primárias que documentam o seu processo de planeamento, de urbanização e de edificação, cobrindo um período temporal situado entre o final dos anos 30 e meados dos anos 70.
Nesta investigação, o conhecimento detalhado de Alvalade não se esgota em si mesmo, servindo para sustentar a tese segundo a qual a sua realização se destaca no panorama do urbanismo português: o Bairro de Alvalade é um exemplo ecléctico de desenho urbano.
No Bairro de Alvalade são identificados conceitos urbanísticos retirados de diferentes modelos de cidade e de várias experiências anteriores, alguns constituindo paradigmas no na teoria do urbanismo.
Em Alvalade, esses modelos são aplicados já não pelo seu ideal, mas deles extraindo conceitos, técnicas, e formas particulares - instrumentos nas mãos dos urbanistas.
Não de aderiu ao movimento moderno, não se recriou a cidade-jardim, não se ficou preso a conceitos da cidade tradicional, não se recriou Amsterdão ou algum Siedlung Alemão.
Pelo contrário, os vários modelos e experiências contemporâneos eram bem conhecidos, em cada um foram reconhecidos defeitos e virtudes, cada um foi decomposto em várias características morfológicas com aptidões próprias. No desenho de Alvalade atingiu-se uma síntese superior de vários modelos, reinterpretados numa nova proposta formal.

João Pedro T. A. Costa é Arquitecto (FA-UTL, 1993), Mestre em Cultura Arquitectónica Contemporânea (FA-UTL, 1998) e Doutor em Urbanismo (Escola Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona, UPC, 2007).
É Professor Auxiliar no Departamento de Urbanismo da FA-UTL, onde lecciona desde 1996, actualmente com actividade docente nos 1º, 2º e 3º ciclos, e Professor Visitante na Universidade de Barcelona (Programa de Doutoramento Espacio Publico y Regeneración Urbana) desde 2002.
Colaborou entre 1991 e 1997 com o Arq. José Lamas, tendo desenvolvido vários trabalhos premiados e publicados, com destaque para o Prémio Europeu de Urbanismo e Planeamento Regional 1997/1998 (atribuído pela Comissão Europeia, DG XVI – actual DG Regional – e Conselho Europeu dos Urbanistas). Entre 2002 e 2004 foi Assessor e Chefe de Gabinete do Secretário de Estado do Ordenamento do Território no XV Governo.
Desenvolve actividade de investigação científica, nacional e internacional, com vários projectos financiados (União Europeia, Ministério da Educação e Ciência de Espanha, Fundação para a Ciência e Tecnologia, Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, Câmara Municipal de Oeiras), nas seguintes áreas de interesse: frentes de água, adaptação a alterações climáticas, reabilitação urbana, politicas urbanas e de ordenamento do território.
É autor de diversas publicações e participa regularmente em fóruns científicos nacionais e internacionais, sendo bolseiro de Pós-Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
É Director do Jornal Arquitecturas, que fundou em 2005.

“Quantos metros de frente?”

Habitação multifamiliar moderna na Lisboa dos anos ’50: teoria e prática na cidade consolidada.

(Ricardo Agarez)

As ruas e avenidas da cidade de Lisboa foram pontuadas, ao longo da década de 1950, por realizações discretas, correntes, edifícios construídos todos os dias para habitação em andares, com uma arquitectura geralmente cuidada, conquanto condicionada, por vezes, pela inserção em parcelas resultantes de processos de urbanização antigos. Estes objectos ostentam, com maior ou menor acerto e expressividade, fachadas desenhadas com recurso às formas modernas de modelo internacional, retomadas e muito divulgadas após a Segunda Guerra Mundial como constituintes de um léxico de aplicação simplificada – que inclui, entre outros, a diferenciação de cores, texturas e planos, a profusão de elementos apostos (varandas, palas, grelhagens, lâminas), a tradução exterior do conteúdo estrutural da construção e o aproveitamento do potencial plástico de tal conteúdo.

Perante este universo de realizações, e considerando que, nas décadas de 1930 e 1940, muitas habitações semi-modernas (já sugerindo preocupações contemporâneas mas ainda fortemente marcadas por convenções oitocentistas) haviam sido envoltas numa capa de feição historicista e nacionalista, surge a interrogação: a actualização das composições de fachada faz parte de uma operação coerente de adaptação do programa habitacional às regras e princípios modernos – em situações, por vezes complexas, de integração em realidades antigas – ou é apenas uma nova capa, mais a par do seu tempo e simultaneamente menos dispendiosa, como a facilidade e rapidez da adesão dos intervenientes no processo faziam porventura temer?

Por outras palavras: até que ponto, na produção arquitectónica desenvolvida em Lisboa para este programa e durante este período, correspondeu, ao relativo grau de modernização das linguagens formais exteriores, segundo os estereótipos de um Movimento Moderno no auge da sua internacionalização, uma concepção moderna da célula habitacional em concentrações multifamiliares, tema de debates exaustivos e de propostas teóricas radicais durante os anos de consolidação daquele movimento?

A apresentação centrar-se-á na exploração do tema “habitação multifamiliar” no contexto da produção arquitectónica lisboeta dos anos ’50, dos seus antecedentes, linhas dominantes, constantes e regras, através da análise de um conjunto de exemplos concretos e menos conhecidos da prática quotidiana do período. Visa-se fornecer uma leitura cruzada da aplicação dos princípios modernistas na estrutura interna do fogo e na composição exterior do edifício, no contexto das condicionantes ditadas pelo tecido urbano consolidado, significativamente afastado da cidade livre, ideal, do modernismo.

Ricardo Agarez (Lisboa, 1972) é doutorando na University College London / The Bartlett School of Architecture (tese "Modern architecture, building tradition and context in southern Portugal", orientação Prof. Adrian Forty). Arquitecto pela FA-UTL (1996) e Mestre em História da Arte (Contemporânea) pela FCSH-UNL (2004). Investigador em Historia e Teoria da Arquitectura dos Sécs. XIX e XX, especialista em arquitectura modernista, habitação, arquitectura de serviços públicos e património edificado. Colaborador do Sistema de Informação para o Património Arquitectónico (IHRU).

"A habitação como direito e a adequação como desejo. Lisboa nos anos 1960 e a investigação no interior do habitar"

(Patrícia Pedrosa)

Em Lisboa, a década de 1960 corresponde a uma alteração de paradigma que a década anterior já fizera adivinhar e que surge reflectida numa explosão de resposta em termos de construção de habitação, onde as intervenções na emergente zona dos Olivais dão corpo. A relevância da aproximação entre o projecto de arquitectura doméstica e as populações para os quais se concretizará não apresenta grande grau de questionabilidade. O interesse pelo estabelecimento de práticas que procurem transpor esta aproximação é, em Portugal, um acontecimento de meados do século XX e conta com tentativas estruturadas e transversais a distintas disciplinas implicáveis e interessadas no tema. Com as actividades de diferentes técnicos, enquadradas em instituições como o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e o Gabinete Técnico da Habitação (GTH) da Câmara Municipal de Lisboa (CML), surge uma alteração do paradigma face à intervenção em arquitectura doméstica. Algum do trabalho realizado no interior da Federação das Caixas de Previdência Habitações Económicas (FCP-HE) já tinha, de certo modo, apontado um caminho.
A amplitude das experiências disciplinares em presença é relevante e transforma as investigações identificadas em objectos de trabalho cujas múltiplas abordagens surgem enriquecedoras. Se se assiste a uma auto-consciencialização dos arquitectos enquanto profissionais que devem aprofundar o conhecimento da sua disciplina, também é possível ver que engenheiros, economistas, sociólogos, assistentes sociais e outros técnicos reconhecem a importância maior do tema do habitar. A atenção dedicada à arquitectura doméstica surge com a preocupação específica sobre o défice grave na oferta de habitação efectiva e as situações de infra-habitação existentes nos núcleos urbanos principais. As contribuições concentram conhecimentos, interesse e energia numa procura de soluções para um maior bem comum.

Patrícia Santos Pedrosa é Docente universitária (Dep. Arquitectura – Universidade Lusófona de Humanidade e Tecnologias). Arquitecta (FA-UTL, 1997), Mestre em História da Arte (FCSH-UNL, 2008) e Doutora em Projectos Arquitectónicos (ETSAB-UPC, 2010). Colaboração nos ateliers Utopos (M.ª M. Godinho de Almeida e D. Cabral de Mello, Lisboa, 1995-1998) e CVDB (C. Veríssimo e D. Burnay, Lisboa, 2001-2002). Áreas principais de investigação: arquitectura e cultura, género e arquitectura, arquitectura portuguesa (séc. XX) e habitação. Tese de mestrado publicada: Cidade Universitária de Lisboa. Génese de uma difícil territorialização (1911-1950). Lisboa: Colibri, 2009. Diversos artigos publicados e presença em diversos congressos, conferências e seminários nacionais e internacionais.


"Reflexões gerais sobre soluções residenciais humanizadas"

(António Baptista Coelho)

Na sequência de um estudo que foi recentemente desenvolvido (2008) no Núcleo de Arquitectura e Urbanismo (NAU) do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), sobre a grande e urgente temática de uma habitação caracterizadamente humanizada - estudo este que foi há editado, em duas versões, pela Livraria do LNEC -, pretende-se realizar uma reflexão prática e descomprometida sobre diversas soluções recentes de habitação de interesse social portuguesas, onde se julga que se avançou nessa humanização do habitar e, consequentemente, numa caracterização tipológica que pode aliar, positivamente, qualidade arquitectónica e satisfação dos moradores.

(António Baptista Coelho) Filho de uma professora primária e de um arquitecto, nasceu no Sítio da Nazaré em 1956, é casado e pai de três filhos. Estudou no Liceu Padre António Vieira, licenciou-se em Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, em 1979, e desenvolveu projectos com o seu pai e com outros colegas até 1995. Tem várias obras construídas em Azambuja e perto desta vila. Seguiu a carreira de investigação no Núcleo de Arquitectura e Urbanismo (NAU) do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), sob orientação de Reis Cabrita. Realizou três provas públicas: para Assistente de Investigação, no LNEC, 1985; para Doutor em Arquitectura, na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 1995 (foi o primeiro doutorado pela FAUP); e para Investigador Principal com Habilitação, no LNEC, 2007. É autor e co-autor de cerca de 350 publicações e artigos, destacando-se nove livros disponíveis na Livraria do LNEC e sete livros exteriores ao LNEC. As sua principais áreas de investigação estão ligadas às variadas matérias da qualidade do habitar e da habitação de interesse social, numa perspectiva que tem também tudo a ver com o urbanismo pormenorizado. Chefia o NAU desde 2002, representa o LNEC no Júri do Prémio INH e IHRU desde 1989, fundou e preside ao Grupo Habitar desde 2003, edita a revista semanal na www Infohabitar desde 2005 (mais de 300 artigos por 50 autores), integra a Comissão Técnica da Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica, apoia vários centros de investigação e integra diversas comissões editoriais de revistas técicas e científicas .