"A habitação como direito e a adequação como desejo. Lisboa nos anos 1960 e a investigação no interior do habitar"

(Patrícia Pedrosa)

Em Lisboa, a década de 1960 corresponde a uma alteração de paradigma que a década anterior já fizera adivinhar e que surge reflectida numa explosão de resposta em termos de construção de habitação, onde as intervenções na emergente zona dos Olivais dão corpo. A relevância da aproximação entre o projecto de arquitectura doméstica e as populações para os quais se concretizará não apresenta grande grau de questionabilidade. O interesse pelo estabelecimento de práticas que procurem transpor esta aproximação é, em Portugal, um acontecimento de meados do século XX e conta com tentativas estruturadas e transversais a distintas disciplinas implicáveis e interessadas no tema. Com as actividades de diferentes técnicos, enquadradas em instituições como o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e o Gabinete Técnico da Habitação (GTH) da Câmara Municipal de Lisboa (CML), surge uma alteração do paradigma face à intervenção em arquitectura doméstica. Algum do trabalho realizado no interior da Federação das Caixas de Previdência Habitações Económicas (FCP-HE) já tinha, de certo modo, apontado um caminho.
A amplitude das experiências disciplinares em presença é relevante e transforma as investigações identificadas em objectos de trabalho cujas múltiplas abordagens surgem enriquecedoras. Se se assiste a uma auto-consciencialização dos arquitectos enquanto profissionais que devem aprofundar o conhecimento da sua disciplina, também é possível ver que engenheiros, economistas, sociólogos, assistentes sociais e outros técnicos reconhecem a importância maior do tema do habitar. A atenção dedicada à arquitectura doméstica surge com a preocupação específica sobre o défice grave na oferta de habitação efectiva e as situações de infra-habitação existentes nos núcleos urbanos principais. As contribuições concentram conhecimentos, interesse e energia numa procura de soluções para um maior bem comum.

Patrícia Santos Pedrosa é Docente universitária (Dep. Arquitectura – Universidade Lusófona de Humanidade e Tecnologias). Arquitecta (FA-UTL, 1997), Mestre em História da Arte (FCSH-UNL, 2008) e Doutora em Projectos Arquitectónicos (ETSAB-UPC, 2010). Colaboração nos ateliers Utopos (M.ª M. Godinho de Almeida e D. Cabral de Mello, Lisboa, 1995-1998) e CVDB (C. Veríssimo e D. Burnay, Lisboa, 2001-2002). Áreas principais de investigação: arquitectura e cultura, género e arquitectura, arquitectura portuguesa (séc. XX) e habitação. Tese de mestrado publicada: Cidade Universitária de Lisboa. Génese de uma difícil territorialização (1911-1950). Lisboa: Colibri, 2009. Diversos artigos publicados e presença em diversos congressos, conferências e seminários nacionais e internacionais.